domingo, 18 de abril de 2010

Funcionamento do espelho

Os links abaixo são indicações de páginas na internet para entender melhor o funcionamento do espelho plano. São conteúdos de óptica, portanto, da disciplina de Física.

http://www.infoescola.com/fisica/espelhos-planos/

http://www.infoescola.com/optica/espelho-plano/

Física: Espelhos Planos - Óptica 01 (Prof. Toid)

O vídeo abaixo é bem didático e nos ajuda a entender o funcionamento do espelho plano, que é um assunto da óptica, estudada pela Física. Se puder, e tiver paciência, acesse o segundo vídeo e entenda também o funcionamento dos espelhos esféricos.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Alguns aspectos sobre a greve dos professores de São Paulo

O objetivo deste texto é apontar apenas alguns detalhes dos motivos que levaram os professores da rede pública estadual de São Paulo a uma greve que durou exatamente um mês. Os grandes meios de comunicação de São Paulo (rádios, TV, jornais e revistas) financiados pelas propagandas do governo e alguns até mesmo vendendo material “didático” (sic) (casos da Editora Abril Cultural e Fundação Roberto Marinho) se aliaram ao governo e serviram como “assessoria” de imprensa e propaganda de governo. Tal qual o antigo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) da ditadura de Getúlio Vargas, nos anos 30.

O primeiro refere-se ao pseudo pedido de aumento salarial como foi divulgado amplamente pela imprensa de governo. Na verdade, tratava-se de pedido de reajuste salarial para repor perdas dos últimos anos, desde 1998, de 34,3% (perdas inflacionárias). Todos os trabalhadores têm esse direito assegurado anualmente, os professores não! O governo nunca respeitou o dissídio salarial da categoria dos professores - que é lei estadual - e deve ocorrer no mês de maio de cada ano. O nosso salário, portanto, está defasado há anos!

A seguir alguns aspectos de algumas leis que atingiram os professores admitidos em caráter temporário, ou seja, que são contratados, de modo “emergencial” (sic) para suprir a falta crônica de professores na rede pública estadual de ensino de São Paulo.

A Lei Complementar Nº 1.093, de 16 de julho de 2009 abrange todos os setores do serviço público estadual, mas fere de maneira específica os professores contratados em caráter temporário, uma vez que limita o contrato ao ano letivo (duzentos dias), portanto, os docentes contratados sob esta lei jamais terão acesso a direitos trabalhistas como a “terça parte de férias” e o “13º salário” também será reduzido ao proporcional, uma vez que jamais poderão trabalhar os doze meses do ano (o ano letivo geralmente se inicia em fevereiro, por volta do dia 10, e encerra-se em dezembro, por volta do dia 20). Essa lei se refere à admissão emergencial “para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público”. No caso da contratação de professores diz o seguinte:

IV - para suprir atividade docente da rede de ensino público estadual, que poderá ser feita nas hipóteses previstas no inciso II deste artigo e, ainda, quando:

a) o número reduzido de aulas não justificar a criação de cargo correspondente;

b) houver saldo de aulas disponíveis, até o provimento do cargo correspondente;

c) ocorrer impedimento do responsável pela regência de classe ou magistério das aulas.”

Sabemos, nesse caso, o tamanho da hipocrisia do governo estadual e da Assembléia Legislativa Estadual que aprovaram esta lei, pois, segundo a APEOESP, sindicato dos professores, “hoje, 100 mil professores (ou 48% do total) são temporários”. Ou seja, apenas 52% são efetivos! O governo estadual está realizando concurso estadual para 10 mil vagas, quando, na verdade, deveria fazê-lo para 100 mil vagas. Não se justifica, portanto, o “caráter emergencial e excepcional” no caso do magistério, afinal, neste caso, “a exceção é a regra”!

Outros destaques dessa lei nefasta aos servidores públicos:



"Artigo 8º - O contrato celebrado com fundamento nesta lei complementar extinguir-se-á antes do término de sua vigência:

VIII - por conveniência da Administração.

§ 1º - A extinção do contrato com fundamento nos incisos I a VII deste artigo far-se-á sem direito a indenização.

§ 2º - A extinção do contrato com fundamento no inciso VIII deste artigo implicará o pagamento ao contratado de indenização correspondente a 1 (uma) vez o valor da remuneração mensal fixada no contrato, ou, quando for o caso, da média mensal da remuneração fixada no contrato, até o advento da extinção."



Todo trabalhador tem direito ao “aviso prévio” ou à indenização correspondente, os professores não! Qual o motivo de tanto descaso e “ódio” aos professores?

Cabe aos docentes os mesmos deveres, mas não os mesmos direitos:



"Artigo 10 - O contratado nos termos desta lei complementar está sujeito aos mesmos deveres, proibições e responsabilidades previstos na Lei nº 10.261, de 28 de outubro de 1968, aplicando-se aos docentes, subsidiariamente, as disposições da Lei complementar nº 444, de 27 de dezembro de 1985."



Percebe-se, na leitura integral da lei 1.093, que o principal objetivo é atingir a categoria do magistério, afinal, são cerca de 100 mil professores (as) eufemisticamente chamados de temporários, alguns estão na rede há mais de 20 anos como "temporários"! O governo, na verdade, tem por objetivo principal fazer “economia” com os salários, mas à custa de vilipendiar os salários dos professores. Esse massacre certamente se refletirá profissionalmente no ânimo e no prazer de lecionar dos docentes. Ser professor nessas condições é humilhante. Perdem os alunos, perdem os professores, perdem a escola e a educação pública paulista. Perdem todos os trabalhadores que dependem do ensino público!

Por exemplo, o governo de São Paulo subdividiu a categoria docente em várias subcategorias nomeadas por letras: F, L, O, V (eventual) etc. Essa forma de tratar os profissionais da educação dividiu ainda mais a profissão docente em São Paulo e, na prática, muitos professores embora tenham as mesmas obrigações morais e profissionais, são tratados de forma diferente, discriminatória. Os professores da categoria O, por exemplo, após cumprirem o ano de letivo não poderão ser contratados no ano seguinte – serão obrigados a cumprir uma quarentena, ou melhor, duzentena, de 200 dias sem poderem trabalhar na Rede Estadual – e, assim, deverão arcar com o desemprego no ano seguinte, mesmo que tenham provado toda sua competência e mérito profissional e, mais ainda, mesmo que todos saibam que faltam professores na rede estadual de ensino. Isso tudo sem falar que todos os outros direitos trabalhistas, mesmo a licença maternidade, serão reduzidos com relação aos direitos dos servidores públicos efetivos! Os professores, inclusive, não terão direito à evolução funcional, qüinqüênio, ou participar da “prova de promoção por mérito” que lhes dariam a suposta possibilidade de aumento salarial.

Sobre a questão do aumento salarial por mérito, isto é, o professor faz um prova e tem que tirar uma nota mínina para ter um aumento  no salário. O grande problema da lei é que ela limita em 20% o número de professores com direito ao aumento e significa que, se 100% dos docentes provarem seus méritos para terem aumento, na prática apenas um pequena parcela será atendida, e, pior ainda, o governo não é obrigado a conceder aumento! Isso pode ocorrer quando o governo disser que não tem orçamento suficiente para o aumento salarial, é o que está previsto na lei:

De acordo com o parágrafo 4º, do artigo 4º, da Lei Complementar n. 1097/2009, temos que:

"§ 4º - Observadas as condições estabelecidas nesta lei complementar, poderão ser beneficiados com a promoção até 20% (vinte por cento) do contingente total de integrantes de cada uma das faixas das classes de docentes, suporte pedagógico e suporte pedagógico em extinção, existente na data da abertura de cada processo de promoção."

Como podemos ver, o governo falta com a verdade total quando faz propaganda na mídia anunciando a sua “revolução” (sic) na educação: engana os professores, engana os alunos, seus pais e a sociedade paulista. A grande imprensa, sua aliada, faz silêncio e finge que não tem nada a ver com isso, mas tem! É só você se perguntar quanto o governo paulista gasta com propaganda nos meios de comunicação de massa. É o preço que paga para comprar o silêncio cúmplice da grande imprensa de São Paulo e do Brasil.

Enfim, a questão da qualidade da educação em São Paulo também passa obrigatoriamente pela valorização real e verdadeira do professor. Não dá para imaginar e acreditar que uma categoria profissional trabalhe feliz e renda profissionalmente, de fato, com qualidade, produzindo aquilo que todos esperam: uma escola e uma educação de qualidade, uma escola com alunos e professores produtivos e felizes!

Mas isso é só a “ponta do iceberg”, na verdade há muito mais a melhorar e o governo, quando ataca publicamente os professores por meio de uma imprensa vendida e subserviente, só está desviando a atenção da sociedade, na verdade, de sua própria responsabilidade no processo. É sempre bom lembrar: esse governo que está aí já tem 16 anos no comando de São Paulo. Tem, portanto, muita responsabilidade!

domingo, 11 de abril de 2010

Os indiferentes

O texto abaixo é de Antonio Gramsci (1891-1937) socialista italiano que foi preso pela polícia fascista de Mussolini. Morreu na prisão, mas nos deixou uma obra política fundamental: Os "Cadernos do Cárcere". O texto em questão, no entanto, foi escrito ainda em sua juventude para a revista "Cittá Futura" (“Cidade Futura”) – redigido em fevereiro de 1917. A fonte desta postagem que faço uso aqui e recomendo a leitura, para maiores informações, é: http://www.espacoacademico.com.br/064/64tc_gramsci.htm

Boa leitura!

Os indiferentes
por Antonio Gramsci

Indiferentes[1]


por Antonio Gramsci


Odeio os indiferentes.Acredito que viver, tal qual Friederich Hebbe[2], quer dizer ser partigiani.[3] [N.doT.: militante, companheiro e/ou "partidário"] Não podem existir os apenas homens, os estranhos à cidade. Quem vive verdadeiramente não pode não-ser concidadão, e não parteggiare. [N.doT.: militar, compartilhar e/ou "tomar partido"] Indiferença é abulia, parasitismo, velhacaria; não é vida. Por isso odeio os indiferentes.



A indiferença é o peso morto da história. É a cadeia de chumbo ("palla di piombo") para o inovador, é a matéria inerte em que se afogam amiúde os mais esplendorosos entusiasmos, é o fosso que circunda a velha cidade e a defende melhor do que as mais sólidas muralhas, melhor que o peito dos seus guerreiros; porque engole em seus pântanos lamacentos os seus assaltantes, os dizima e desencoraja e, às vezes, faz com que desistam da ação heróica.



A indiferença opera poderosamente na história. Opera passivamente, mas opera. É a fatalidade; é aquilo com o que não se pode contar; é aquilo que confunde os programas, que derruba os planos mais bem construídos; é a matéria bruta que se rebela contra a inteligência, e a destroça. Aquilo que acontece – o mal que se abate sobre todos, o possível bem que um ato heróico (de valor universal) pode gerar – não se deve tanto à iniciativa dos poucos que operam quanto à indiferença, ao absenteísmo de muitos. O que acontece, não acontece tanto porque alguns querem que aconteça quanto, sobretudo, porque a massa dos homens abdica de sua vontade, deixa fazer, deixa enlaçar os nós que, depois, só a espada pode cortar, deixa promulgar as leis que depois só a revolta faz revogar, deixa subir ao poder homens que, depois, só uma insurreição pode derrubar. A fatalidade que parece dominar a história não é outra coisa que a aparência ilusória desta indiferença, deste absenteísmo; fatos amadurecidos à sombra – a poucas mãos – não-submetidos a qualquer controle, que tecem a tela da vida coletiva, e a massa dos homens ignora, porque isso não a preocupa. Os destinos de uma época são manipulados de acordo com visões estreitas, de alcance imediato, de ambições e paixões pessoais de pequenos grupos ativos; e a massa dos homens ignora, porque isso não a preocupa. Mas os fatos que amadurecem vêm à superfície; a tela tecida à sombra vem à tona, e então parece ser a fatalidade a arrastar a tudo e a todos, parece que a história não é mais do que um enorme fenômeno natural, uma erupção, um terremoto, do qual todos são vítimas – o que quis e o que não quis, quem sabia e quem não sabia, quem esteve ativo e o indiferente. Este último se irrita, desejaria livrar-se às conseqüências, desejaria deixar claro que não assentiu, que não é responsável. Alguns choramingam piedosamente, outros blasfemam obscenamente, mas nenhum – ou poucos – se pergunta: se tivesse eu também cumprido o meu dever, se tivesse buscado fazer valer a minha vontade, meu juízo, teria acontecido o que aconteceu? Mas nenhum – ou poucos – o atribui à sua indiferença, ao seu ceticismo; a não ter dado seus braços e atividade àqueles grupos de concidadãos que, para evitar esse mesmo mal, combatiam; que a procurar tal bem se propunham.



A maioria deles, ao contrário, diante de acontecimentos consumados, prefere falar de falhas ideais, de programas definitivamente esmagados e de outras fanfarronices semelhantes. Recomeçam assim o seu absenteísmo de qualquer compromisso. E já não por não verem claramente as coisas e, por vezes, não serem capazes de divisar belíssimas soluções para os problemas mais urgentes, ou para aqueles que – embora requerendo uma ampla preparação e tempo – são todavia tão urgentes quanto. Mas essas soluções são belissimamente inférteis; mas essa contribuição à vida coletiva não é animada por qualquer luz moral: é produto de curiosidade intelectual, e não do senso pungente de um compromisso histórico que quer a todos ativos na vida, que não admite desconhecimentos e indiferenças de nenhuma espécie.



Odeio os indiferentes também porque me dá nojo o seu choramingo de eternos inocentes. Peço contas a cada um deles pelo balanço do que a vida lhes pôs e põe, cotidianamente, do que fizeram e, especialmente, do que não fizeram. E sinto poder ser inexorável, não dever desperdiçar a minha compaixão, não repartir com eles as minhas lágrimas. Sou partigiano, vivo, sinto nas viris consciências de meus companheiros já pulsar a atividade da cidade futura que estamos construindo. E, nesta, a cadeia social não pesa sobre poucos; qualquer coisa que acontece não se deve ao acaso, à fatalidade, mas é obra inteligente dos concidadãos. Não há nesta ninguém à janela observando enquanto os poucos se sacrificam, abnegados no sacrifício; e tampouco há quem esteja entocaiado à janela e que pretenda usufruir o pouco bem que a atividade de poucos busca, e afogue a sua desilusão injuriando o sacrificado, o abnegado, porque não teve êxito na sua tentativa.



Vivo, sou partigiano. Por isso odeio quem não parteggia, odeio os indiferentes.



________________



[1] Gramsci, Antonio (1917). Indifferenti, In: Cittá Futura, 11/feb./1917 (In: Scritti Giovanili 1914-1918. Torino: Einaudi, 1972). Tradução livre de Roberto Della Santa Barros. Cotejada com a versão de P. C. U. Cavalcanti (Convite à Leitura de Gramsci. Rio de Janeiro: Achiamé, 1985) e conferida junto à tradução de C. N. Coutinho (Escritos Políticos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004).



[2] Friedrich Hebbel – In: Vivere significa esser partigiani – publicado na edição do jornal Grido del Popolo (“Grito do Povo”) de 27 de maio de 1916. Hebbel (1813-1863) – dramaturgo e poeta alemão – registra tal asseveração em seus Diários (reflexão de número 2.127), onde desenvolve reflexão eminentemente filosófica.Gramsci vale-se – no artigo do jornal Cittá Futura – de um enunciado próprio do pensamento social de Hebbel, nutrindo-se do espírito de reflexões como: “Alla gioventù si rimprovera spesso di credere che il mondo cominci appena con essa. Ma la vecchiaia crede anche più spesso che il mondo cessi con lei. Cos’è peggio?” (“À juventude se censura amiúde por acreditar que o mundo começa apenas com a mesma. Mas os velhos acreditam ainda mais piamente que o mundo cessa com eles. O que é pior?”). Outro aforismo da mesma matriz – perfeitamente compreensível para os lusófonos, daqui e de todas as partes – é também bastante significativo de sua índole antideterminista: “Un prigionero è un predicatore de la libertá”.



[3] Nesta tradução livre optamos pelo (algo heterodoxo) procedimento de manter o original dos lexemas (i) partigiani, (ii) parteggiare, (iii) partigiano e (iv) parteggia; apenas cuidando destacá-los em negrito. Expliquemo-nos. As soluções encontradas na tradução de Cavalcanti são, segundo a ordem de exposição: (i) “partidários”, (ii) “[ser] partidário”, (iii) “militante” e (iv) “[toma] partido”. Coutinho, para a última ("parteggia"), utiliza a forma"se compromete". Apesar de não contribuir para qualquer prejuízo do significado geral dos mesmos, incorre-se em dois problemas centrais: arranca-se a raiz comum entre os substantivos partigiano (singular) e partigiani (plural) e o verbo parteggiare / parteggia (nas formas infinitiva e presente, respectivamente) por um lado e, por outro, perde-se a força (algo taumatúrgica) reivindicada pelo autor – em torno a tais unidades de sentido – em oposição à indifferenza e aos indifferenti, ao longo do fundamental de sua argüição histórico-filosófica. Ainda, em perspectiva sincrônico-diacrônica, a palavra ("partigiano") sedimentou-se na posterior história social italiana como símbolo da resistência antifascista – vide, por exemplo, o cancioneiro revolucionário da Itália, em especial Bella Ciao. E não se trata de um passado remoto. A figura do partigiano ("militante, companheiro, partidário") ecoou vívidamente nas avenidas de Florença (capital da Toscana, na Itália) cantado nas vozes dos mais de 1.500.000 manifestantes – de todas as partes do mundo – que acudiram à marcha contra a Guerra do Iraque durante o encerramento do I Fórum Social Europeu, em pleno ano de 2002, no alvorecer do século XXI. Ao apoderar-se de mentes e corações de milhões em movimento e, dessa forma, engrandecer a tarefa a ser realizada pelas novas gerações, o signo em questão revigora-se e se atualiza, convertendo-se em verdadeira força material – base para o aprendizado de seu "novo idioma". Como queria o poeta, tranformar a vida para, então, cantá-la. Por isso tudo: parteggia, partigiano.



"(...) o principiante que aprende um novo idioma, traduz sempre as palavras deste idioma para sua língua natal; mas só quando puder manejá-lo sem apelar para o passado e esquecer sua própria língua no emprego da nova, terá assimilado o espírito desta última e poderá produzir livremente nela" (In: Marx, Karl. 1852. O Dezoito Brumário de Luis Bonaparte, várias edições).